quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

virgulas

Há tempo que eu realmente não escrevo e não paro pra pensar sobre mim. Não por não existir necessidade, nem por não existir mais afeto, mas é por tempo, o tempo que me afeta mais uma vez. 
Acho que deve ser isso que as pessoas chamam de ser adulto. Trabalhos para fazer, contas a pagar e contas que jamais serão acertadas, pois agora eu percebo que é preciso ter um quê de mágoa para crescer. Inflação, preocupação com o tempo, assaltos que nos tomam por alto. Muitos assaltos. Assalto que acontece quando você não tem mais o direito de ser o que é. Porque você é o que tem. E obrigatoriamente todos nós temos de ter alguma coisa, nem que seja medo. Somos especialista em medo. Só tive medo, e mais nada. 
Mas não estou tão adulta assim não é? Pelo menos não o quanto aparento ser. Eu continuo gastando parte do meu dinheiro em livros, sorvete, ou em qualquer coisa que eu ache divertida. Por outro lado, eu passo a maior parte do tempo pensando na quantidade de coisas que preciso fazer ao longo do dia, vidrada, hora tenho de trabalhar, hora tenho de estudar, mas no meio de tudo isso não tenho conseguido achar tempo pra escrever. 
Não escrever, assim como não parar e observar a lua ou as estrelas que sempre admirei, por um tempo me pareceu muito maduro. Tendo em vista que passei muito mais tempo pensando em um corte de cabelo que combinasse mais com a minha personalidade, mas que no fim, não dizia mais nada sobre mim. Já achei que aquelas mesmas estrelas morreram e caíram em algum lugar desperdiçado. 
Hoje eu me escrevo com mágoa. Meu peito doeu, quando eu era mais nova acreditava que era meu coração querendo crescer, hoje, a primeira coisa que me vem a cabeça é uma possível doença. E eu não posso adoecer, eu tenho que trabalhar. Estou crescendo. Infelizmente, acho que, na verdade, já cresci. Tenho uma conta no banco pra depositarem o meu salário, e outra para guarda-lo, e isso é tão ridiculamente triste. Eu cresci e andei pra tão longe de mim. Isso é tão adulto, não é?
Crescer é caminhar sozinho, mesmo que o fim da estrada seja o mesmo pra todos os seres vivos do planeta.
Solidão compartilhada. É disso que vive nossa geração. 
Hoje eu me senti tão desabrigada, e quis voltar, mas não consegui.  
Quis voltar a ser a garota que fui e que deixei para trás, seja por timidez, vergonha ou por necessidade, e que vão via a hora do tempo passar, a garota que foi obrigada a crescer e que mal pode ser uma garota. 
Mas agora, eu não consigo mais acha-la no meio de tanto passado, de tanta mágoa, muito mais do que eu precisava agora. 
Eu, as vezes, me sinto velha demais, chata demais, dura demais, fria demais. Alguma coisa morreu de repente dentro de mim. 
Tem algum tempo que não me sinto bem comigo mesma, e é por isso que agora me escrevo, depois de tanto tempo engasgada.
Eu entendi que o melhor é deixar aquela garota para trás. Pois, embora eu sinta saudade do que fui, estou ansiosa pelo que virá.
Eu cresci, e transformei tudo isso em uma experiência positiva. E agora estamos no fim e um ciclo novo se inicia. Eu estou disposta e deixarei tudo isso para trás, crescer é difícil mas eu vou encarar.
E o meu desejo para o novo ano é ser feliz. 

domingo, 13 de dezembro de 2015

Me dedilha

Acho engraçado o jeito que você me dedilha como um violão.
Eu acho bonito o jeito com que tuas mãos percorrem o meu corpo.
Elas parecem perdidas mas sabem o caminho. E o ciclo mais bonito que já vi.
Eu gosto quando você me olha e me implora e vejo que teu desejo guardado e meu.
Eu gosto quando os teus olhos se encontram com os meus, e de quando o nosso olhar fixo se perde e se encontra, do modo como suas mãos percorrem as minhas coxas, as minhas costas, de como percorrem o meu corpo.
Gosto de como a gente não se importa com a beleza e nem com a etiqueta, de quando te olho e você ainda me acha linda, de quando você se desfaz em meus braços e me refaz logo em seguida, e de como tudo acaba se encaixando, dos cabelos bagunçados e do suor, de tudo escorrendo e da gente querendo.
O meu corpo seu.
Gosto do modo como voce me ve, e sabe aproveitar muito mais alem do que ha por fora; de tudo que voce me sussurra aos ouvidos e de como nossa relaçao vai muito alem disso.
Eu gosto do transe e do pouco de lucidez que ainda nos resta ao final de tudo isso. 

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Carta de suicídio de V.W

"Meu querido,
Quero dizer que você me deu a felicidade completa. Ninguém poderia ter feito mais do que você. Por favor, acredite.
Mas sei que jamais recuperarei; e estou desperdiçando sua vida. É essa loucura. Nada que alguém disser poderá me convencer.  Você não consegue trabalhar e ficara muito melhor sem mim. Está vendo não consigo nem escrever isso direito. Só prova que estou certa. Só quero dizer que até essa doença surgir fomos perfeitamente felizes. Foi tudo graças á você.
Ninguém poderia ter sido tão bom como você tem sido, do primeiro dia até agora.  
Todos sabem disso.

V."

Depois de ter lido a mesma coisa por mais de quatro vezes, me desfiz em lagrimas. Senti muitas coisas ao mesmo tempo - uma tristeza, uma dor inexprimível diante da vida que fora rompida, mesmo que á muito anos antes de meu nascimento.
Hora senti por ela, hora senti por ele, e hora por mim. Senti em mim a dor dela, tive medo, pois ainda carrego comigo uma carta que fiz em uma das tentativas frustradas de romper com a minha própria vida. Não acho que eu esteja plenamente recuperada e nem acho que possa chegar a estar. Depois da vigésima, ainda acho que não me recuperei nem ao menos da primeira. 
Eu gostaria de tê-lá conhecido. Provavelmente não a salvaria, mas certamente lhe diria como aquela dor me é familiar.
Porque diabos temos de carregar dia após dia este fardo tão  pesado? 
Todo esse tempo que se passou desde Virginia, estou frustrada, irritada, principalmente com este mundo por deixar que alguém como ela partisse tão cedo. 
V.W. essa ideia agora é insuportável para mim. 

"O que é isso que empurra alguém para a beirada final e fatal, quando a vida é algo que estamos dispostos á perder?"  


quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Me refiz

"Queria poder acrescentar que não me veio mas a morte à cabeça durante todas aquelas horas em que eu estive com ela. Não sei se lhe dei atenção demais, ou foi ela quem lançou uma magia absoluta sobre mim, mas algo nela me fez não querer morrer o tempo todo. 

Posso dizer que ela me fez querer morrer menos hoje pela manhã. O que será isso? 

Acho que enlouqueci, ou foi ela que me deixou louca. Das duas formas, de uma coisa eu tenho certeza, ela faz com que eu queira me salvar do pior em mim." 




- Com amor, Bruna.

domingo, 15 de novembro de 2015

Saia

Superei sua partida,
parei de chorar logo em seguida,
me agarrei no travesseiro, 
não me incomodei com o cheiro.


Levantei da cama,

tirei o pijama,
coloquei uma roupa boa e saí.


Depois do trabalho,
beber até cair.


Mas chegando lá, 
as palavras que saiam
não eram minhas,

as manias de como falar,
o jeito não era paulista.


Pois o meu problema 
não era seu cheiro,
mas o seu jeito que não saía de mim.

sábado, 14 de novembro de 2015

antes

Eu costumava gostar do silêncio
da quietude da tarde
da minha solitude
e dos cochilos na rede

Filmes do Tarantino as três
para fazer a diversão do dia
e umas palavras em um papel
para me livrar de qualquer dor que eu tinha

Eu...

Eu costumava ter algumas certezas fixas
na minha leitura das pessoas
e do mundo
e achava internamente que sempre tinha razão
que tinha um desenho do futuro
guardado
escondido
que eu sabia

Eu costumava
mas não sei o que houve

E apesar de olhar para todos os lados
eu não consigo encontrar o retorno
e apesar dos meus pulos
no vazio da casa
e apesar do meu custo em admitir

Eu não sei mais...

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Indigesto

Eu tinha uma pizza adormecida me esperando pra ser almoçada, um livro de Marx e uma revista sobre feminismo dormindo comigo há alguns dias já. Eu tinha um coração sentido por ter se privado de sentir porque o mundo, ou a vida, não são como os filmes de Hollywood. Minha vida não durava duas horas como num longa-metragem e eu estava prestes a completar 17 ciclos de vida, e meus aniversários em fevereiro eram sempre tristes, mesmo que comemorados no carnaval. Eu tinha umas cicatrizes de Frida esperando para serem costuradas em mim e um coração para amputar, porque amar era abortivo demais para mim, que fria e distante, sentia muito por sentir tão pouco. Eu tinha Durkheim gritando na minha cabeça que o mundo é tão vil e que mesmo gostando tanto de gente e me sentindo tão humana, era tão ninguém quanto o mendigo da esquina que pede esmola e mora debaixo do viaduto da Mooca e que pior, eu era também, tão vil quanto o mundo. Eu era nada, uma peça do sistema que se morre ou para é substituída mais depressa do que o macarrão instantâneo que eu almocei a semana inteira. Eu tinha Simone de  Beavoir me dizendo todos os dias que mulher não nasce, mas torna-se. É a cada dia eu era mais mulher que ontem, porque eu comecei a gostar de mim, do meu corpo, dos meus seios que eram tão ou mais caídos que os da minha avó, mas que também ficavam muito bonitos em mim com 17 quase 18 anos. E que meu cabelo não era ruim para eu ter passado tantos anos da minha vida esticando, queimando e prendendo para que ele tomasse jeito e fosse um cabelo normal. Mas ele sempre foi, eu é que era ruim e sempre o maltratei tanto. Não uso mais sutiã para ir ao hipermercado que fica mais distante que a padaria da esquina ou a loja de doces da rua de trás, eu deixo meus seios livres como os meus cabelos, que não são ruins, mas que ficaram por muito tempo encarcerados num padrão tão cruel e incisivo. Eu tinha uma vida para viver, mas eu estava a quatros dias sem sair de casa me sentindo tão controversa, tão vi a e morta, que eu sentia tanto mas não pulsava nada. Tão parada e estagnar entre quatro paredes tão alvas e puras quanto o sangue de Eduardo que escorreu tão maciço e pesado depois de ter levado um tiro de fuzil na cabeça. Eu já passei dos 16, graças a Deus, de morrer com 10 numa tarde quinta-feira eu me livrei. Eu sou tão nada mesmo que Eduardo morreu sem saber que eu o amava. Eu tinha tanta coisa pra fazer.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Me dei conta de mim

eu não gosto de chorar 
outro dia reparei que não tenho chorado mais
arrasto meus dramas
por minhas correntes invisíveis 

na velha caixa de lembranças 
sufoquei a saudade
tranquei
e coloquei a chave 
no ponto mais alto
sobre as cortinas do meu quarto

agora, 
só me falta esquecer. 

terça-feira, 18 de agosto de 2015

"Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que me amasse

Mas tive somente à mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento

Não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só".

- Florbela Espanca 

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Amanhã serei feliz

"amanhã serei feliz" 

Dizia e repetia como se soubesse que a morte não iria bater em sua porta nem tão cedo. Adiava a sua própria felicidade por preguiça de se levantar. Preferia sofrer por medo de tentar e conseguir ser feliz a ponto de se machucar mais ainda.

Eis que mantinha sua própria filosofia...

quando o sentimento é grande, a queda acaba se tornando mortal.

domingo, 2 de agosto de 2015

Porque heróis também sofrem por amor

Eu encho o copo para beber tudo em um gole só.
Tudo gira. Inclusive você.
Tento te abraçar mas você parece distante demais.
Intocável.
Quando foi que chegou aqui?
Porque diabos entrou no meu coração tão fácil e não quer sair?
O dono desse bar te conhece, sem nem te ver.
Passo a noite toda aqui falando de você.
Ele insiste para eu parar. Diz que eu vou morrer.
Ele pediu pra tu vir aqui?
Ele contou para você?

Por favor, não vá, eu te pago uma bebida.
Vai ser tão bom pra mim...
E para você?

Senta aqui só um instante.
Deixe eu te olhar e me perder.
No fim da noite mal vou aguentar andar.
Mas juro, não esquecerei o seu nome.


sexta-feira, 31 de julho de 2015

Das confissões que faço no silêncio

Toca meu cabelo como quem tira o véu.
Puxa para trás e me joga na parede.
Estamos no metrô. Todos nos observam.
Que vergonha.
Mas isso não importa agora.
Eu o desejo, como jamais desejei antes. 
Marca minha carne como se fosse brasa.
Me aperta contra a parede.
Me morde os lábios e eu sinto a excitação percorrer por todo meu corpo.
Suas mãos dentro da minha calça em um cantinho da estação.
E eu desejando mais que aquilo.
Um tesão que aumenta cada vez mais.
Eu preciso ir embora.
Meu telefone está tocando.
Eu o ouço tocar ao longe.
Estou delirando.

Ele me sussura ao pé do ouvido se eu quero mesmo ir embora.
Safado.
Gemendo eu respondo que não.
Ele está tão excitado quanto eu.
Eu o desejo.
Ele me deseja.
Estamos em publico.
Que droga. Queria estar em sua cama.
Mais um beijo.
Mais um empurrao.
Gozei.

Como ele consegue?
Faz de mim o que quer.
Não me sinto apaixonada.
Mas nos damos bem fisica e sexualmente.
Nos damos bem na vida e nos damos bem na cama.
Que saudade dele na minha cama.
Seu rosto entre minhas pernas.
Chupando a essência do meu ser.
Parecia uma viagem.
Como aquelas dos que tomam LCD.
Mas essa além de ser real,
Me leva á ele mais uma vez.
Que droga.
Ele é uma droga.
Que vicio.
Estou o desejando novamente.

Tenho lábios que anseiam beijar estrelas,
sua boca é minha constelação favorita.


"Sou excesso naquilo que me transborda,
e você, meu amor,
é a gota que falta para iniciar a enchente."




sábado, 25 de julho de 2015

Com amor

Uma curiosa intimidade se constrói quando duas pessoas trocam histórias de
seus colapsos devastadores.

Ela surgiu de repente , levou um até nos falarmos de fato e estabelecermos uma
proximidade. Uma intimidade estranha e súbita. Tão agradável. Ás vezes em que estive a beira de um colapso ela foi extremamente atenciosa.

Ela é uma das muitas pessoas para quem a depressão está sempre á espreita, por mais cuidadoso que seja o controle da medicação, dos tratamentos ou do comportamento.

Eu vi o que ela escrevia, ouvia e perguntava sobre ela. Tinha a sensação de que nos conhecíamos, como que para a vida toda. Algo nela me atraiu, além da depressão em comum.  Eu sempre ouvi com atenção os seus relatos á respeito da vida, era como se falássemos sempre a mesma língua. Quando em crise eu percebi; a depressão fala, ou ensina á você uma língua totalmente diferente.

Lembro da primeira vez que a vi, já gostava tanto dela que não era capaz de acreditar que nunca havíamos nos visto antes.

E agora, eu lembro muito dela.

Sinto sua falta.

- Á minha querida amiga, Kaky.
Com amor, Bruna.

por onde andei

Eu queria que ninguém me  notasse. Não me notassem por um bom tempo. Não se importassem ao ponto de me desconfigurar, que passassem por mim como atravessam uma porta qualquer. Aqui dentro existe um buraco gigantesco, e quem se aproxima, infelizmente, se perde. E você se perdeu!

E eu não quero perder você.

Então fique longe, mesmo que machuque, fique longe. Em mim dói muito mais, por saber que apenas eu sou capaz de acabar com isso, e não consigo.
Eu me perdi também. 
Queria um abraço para morar e fiz dele tempestade. Eu existo em uma parte distinta da galáxia, e meu infinito é tão limitado a coisas ruins. Não tente me ajudar. Eu não quero. Eu já me acostumei. Estou com saudade, mas eu não tenho uma saudade bonita para sentir. Sinto vontade, mas todos os meus desejos me levam á caminhos ruins. Queria um abrigo, não tenho nem ao menos a mim. 

Hoje eu senti saudade. 
Senti saudade de ver uma boa imagem refletindo no espelho, saudade de sentir um sorriso surgir na inocência, por saber que no olhar existe felicidade. Hoje eu chorei. Chorei porque senti falta do aconchego de uma palavra qualquer, de uma conversa banal, eu ouço apenas o som do backspace. O som do silêncio. 

A alma fria só me serve para preservar a carne nesse estado infindo de tristeza, talvez, quem sabe, para ser  exposta, e servir de exemplo a não ser seguido. Hoje, o castigo para quem errar é ser só. Não há fogueira, há frio. E não existe coisa pior.

O despertador tocou. Antigamente eu sentia felicidade em saber que estava viva. Hoje, se eu pudesse adiaria esse despertador e deixaria que esses cinco minutinhos se expandissem pelos caminhos limitados do resto da minha vida. Ah, eternidade, eu não pertenço a isso. Eu não desejo ao meu pior inimigo a vida eterna. É cruel imaginar uma imensidão só.

Juventude doente de solidão. As pessoas são tão previsíveis. Todas as palavras de amor sem sentido. Sentimento perdido. Tempo perdido. Renato estava certo e ninguém poderia prever isso. Sempre foi fácil taxar de louco, quem deixava escancarado a doença da alma. Todos negaram a realidade, e hoje ela se revoltou.

Eu tenho pena.

sábado, 27 de junho de 2015

Eu não vou te perdoar!

E foi assim, eu estava em casa, ele entrou e disse que queria conversar... Desde que eu encontrei meu lugar no movimento feminista, tenho desconfiado de homens como ele -  não, feministas não odeiam os homens, mas mulheres me ensinaram que o mundo não é tão belo como parece e que deve-se desconfiar de homens a qual se dá a mão e ele quer o seu corpo, literalmente - ele um homem mais velho, com um ar suspeito, seus cabelos grisalhos e seu sorriso que me deixa em pânico, entrou... 
Desconfiei de sua presença, eu sempre soube que não deveria ser amiga daquele homem, mas ele era um amigo da família, porque apenas eu me viraria contra ele? 
Um em cada ponta do sofá, um de cada lado, ele perguntando da minha escola, do meu trabalho, da minha vida e dos meus pais... Eu respondi e logo o pedi que fosse embora, não estava ocupada mas não queria sua presença, queria que ele saísse da minha casa pois não fora convidado a entrar.
Eu me levanto.
Ele se levanta. 
Eu dou um passo, ele me joga de volta no sofá, me tampa a boca e grita para que eu me cale. Ele é homem, alto, grande e forte. Ele me assusta. Eu me debato. Ele me bate. Há minutos atrás eu havia o dito que sentira cólica a noite toda, ele agora, passa a mão pela minha barriga, diz que vai amenizar minha cólica, me dá um beijo na barriga e me pergunta o porque de eu não ter um piercing ali tendo uma barriga tão bonita. Ele não se importa. Eu digo que não quero, que pra cólica tem remédio, que não quero piercing, que não quero nada, quero que ele me solte. Ele ignora. Desce a mão pelo que muitos chamam de "caminho da felicidade", que é aquela linha reta um pouco escura que algumas pessoas tem na barriga partindo do umbigo, ele segue o caminho da felicidade até o que seria a felicidade dele. Eu perguntei porque ele estava fazendo aquilo. Pergunta em vão. Eu não consigo evitar que ele tire a minha roupa. Meu short já está na altura dos joelhos, ele diz que eu tenho um corpo lindo. Eu choro. Eu me debato. Eu grito. Ele me bate. Sua mão agora está no meu peito, peito pequeno ele diz, isso o agrada. Ele passa a mão em mim. Ele beija meu corpo. Ele esfrega sua mão rígida e áspera pela minha vagina. Ele diz que eu sou uma menininha ainda. Eu grito e apanho na cara por isso. Eu me debato e em um golpe rápido caio do sofá. 
Eu me levanto.
Eu tento correr.
Ele me agarra pelas costas.
Consigo sentir seu pênis rígido a se esfregar pela minha bunda. Meu short está nos pés. Eu choro. Eu choro muito. Já não sinto mais nada. Nem medo, nem vergonha, nem nojo. Só sinto suas mãos passando pelo meu corpo e ele me beijando a nuca. Falando do meu cheiro. Se deliciando em me ver pedir para parar. Ele me atira de volta no sofá. Dessa vez de costas. Ele esfrega seu corpo contra o meu. Nada de penetração. Mas ele se satisfaz assim mesmo.
Ele se levanta.
Eu estou derrotada.
Ele diz que eu não devo contar nada a ninguém. Que nós somos muito amigos. Ele diz que sabia que eu também queria isso. Chantagem emocional. Ele sabe da minha situação psicológica. Sabe da minha relação com os meus pais. Ele diz para eu pensar na minha mãe e em tamanha infelicidade que eu causaria a ela. Ele tem influência sobre a minha família. Eu me senti um lixo. Alega que ninguém acreditara em mim. Ele tem um tom de voz agressivo. Não me dói tanto fisicamente, me dói muito mais a alma. 
Ele sai.
Eu corro e fecho a porta.
Eu tranco.
Eu grito.
Eu choro.
Eu não sei o que fazer. 
Eu não creio que haja justiça. 
Eu tenho medo de contar aos meus pais. De alguma forma eu me convenci de que a culpa é minha.
Tenho medo de vê-lo novamente. 

[...]

Ele sumiu. 

[...]

Ele reapareceu.
Eu não o temo mais.
Mentira. A quem estou enganando. Eu finjo que está tudo bem e que nada aconteceu, assim como ele quer. Eu finjo que superei. E que isso não me atingiu de forma profunda. Uma grande farsa, assim como toda a minha vida, em que eu me enganei e sempre guardei tudo pra mim. Tola eu que achei que não falando nada a ninguém me privaria do sofrimento de viver.
Ás vezes eu acho que minha memória criou algum mecanismo de defesa, eu me esforço mas ainda assim não consigo lembrar de tudo. 
Eu o encontrei na escada. Ignorei seu bom dia. Como eu poderia ter um bom dia encontrando com alguém como ele logo cedo?
Ele voltou a aparecer na minha casa.
Como ele sabe meus horários? Como ele sabe sempre que estou sozinha? 
Ele apareceu no meu trabalho.
Eu o encontro na rua.
Eu o encontro em todos os lugares. 
Ele me assusta. 
Sempre dizendo que vai "dar uma passadinha para ver como eu estou"; que "vai passar para conversar"; que "vai me levar um presente"; que "esta com saudade". Eu temo. Temo por mim. Eu não quero conversar com ele. Não quero ter outra conversa com ele. 
Ele está novamente dentro da minha casa.

[...]

Eu sai de casa. 
Eu sai de casa por medo. Por falta de ajuda. Por ter nojo dele e nojo de mim. Como eu pude ser fraca e covarde? Eu me culpo, eu me culpo e não é pouco. 
Eu fui ao conselho tutelar. Ignoraram. Me negaram ajuda.
Eu fui a delegacia da mulher. Eu fui dada como desaparecida. A escrivã mal me ouviu. Não me deixou contar o meu caso... Anunciou que chamaria os meus pais. Eu teria de voltar para casa. Eu teria de vê-lo novamente. Eu seria posta de frente com ele, tendo que dizer á todos, olhando-o nos olhos, o que ele havia feito comigo. Eu não aguentaria isso. 
A escrivã diz que não irá garantir minha segurança, mais parece que ela quer que algo ocorra para então tomar uma atitude, do que prevenir de fato. Diz que eu deveria procurar o conselho. Como se eu já não houvesse feito isso. 
Eu perdi meu emprego.
Eu perdi minha autoconfiança.
Eu perdi minha vida.
Eu terei de retornar á casa.
Eu terei de retornar ao sofá.
Eu terei de vê-lo.
Eu tenho medo.
Ele me estuprou.




Eu sei que a minha história é apenas mais uma de muitas que vi, sobre abusos, estupro e coisas do tipo. Talvez eu espere "ouvir" de vocês que eu não tive culpa. Mas por mais que, racionalmente, eu saiba disso, minha alma e meu coração ainda não se convenceram do mesmo. É uma divida que tenho comigo mesma, de tentar virar a página e seguir em frente. 

Nenhuma mulher deve passar por isso!
Basta de estupro! 
Basta de mulheres mortas! 
Basta dessa justiça burguesa! 

Que tenhamos justiça de verdade! Justiça para mim. Para ela. Para todas nós! 




fiz minha tua dor

Eu só queria estar aí pra te oferecer uma saída.
Pra dizer que te entendo, 
que a vida maltrata assim mesmo.
Que é normal desabar toda noite, 
e pela manhã,
juntar tudo o que sobrou.
Eu queria te dar a mão,
deixando com que as tuas lágrimas caiam do teu rosto
e molhem o meu ombro. 
Queria te dizer que tua dor me dói.
Lhe dizer que tua bagunça não me assusta.
Mas que pelo contrário,
que me é familiar... 

Porque eu me vejo em você! 


- Com amor, Bruna. 

sexta-feira, 26 de junho de 2015

A guerra cotidiana

Explosões. Tiros. Gritos abafados. Corações oprimidos batem lentamente, quase parando. Almas vazias me rodeiam, levando de mim o pouco de esperança que me restara. Urros de desespero são frequentes perante as perdas diárias. Conversas ficam sempre pra outra hora, afinal, há sempre algo mais importante a se fazer em um lugar como este em que as pessoas estão tentando sobreviver e se destacar. Muitas das vezes nem se importam com os meios, aqui, o que importa mesmo são os fins, status, aparência e poder.

A noite guarda segredos envoltos em seu denso negrume.
O sangue jorra demasiado.
As drogas são uma espécie de artifício mágico.
As verdades estão implícitas e as mentiras mais do que vivas.
Hipocrisia, sorrisos rasos e mentes impuras.
Todos tão iguais que deveriam ao menos estar do mesmo lado.
Aparentemente, o bem individual, é uma causa melhor.

Quem nos trouxe o inferno de presente?

Tudo que eu recebo como resposta
é o som do alarme
indicando mais um dia
mais um dia de embate latente.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

PROCURA-SE

Procura-se

Respostas para perguntas vazias
Abraços para tamanho desapego
Amor verdadeiro para suprir a carência
Alguém para viver uma vida simples, normal, porém, feliz.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Meu gato é meu Deus

A principio fiquei bastante chocada quando me dei conta disso, foi em um dia qualquer, tirei uma foto dele, observei como o amava e como era maravilhoso o observar; foi ai que me dei conta: meu gato é Deus.

Onde quer que eu vá ele está lá. Seja na forma dos pelos grudados no meu casaco preto, ou dentro do meu sapato, ou no céu da minha boca. Seja nos grãos de ração dentro da minha bolsa ou nos arranhões nos meus braços. Ele assim como Deus, é onipresente. E também, assim como ele, quando eu chamo, lhe suplico, ele é indiferente e nem se quer me responde. Ele sabe que não é o único, mas ainda assim, não aceita que outros sejam tão adorados quanto ele.

Ele exige meu tempo, e minha adoração. Talvez ele ache que deva ser amado acima de tudo e de todas as coisas. Mais ainda do que o sofá novo de minha mãe, que agora está com as quinas completamente destruídas por suas santas garras. Talvez ele ache que eu deva amá-lo mais do que a mim mesma, e ser apenas instrumento de sua vontade.

Fica feliz quando eu chego em casa, mas após isto, somente quando eu faço o que ele quer. E quando faz exigências, quer ser atendido quase que imediatamente, caso ao contrário faz birra, e mia como se o mundo fosse acabar. Talvez ele saiba que vê-lo gritar dessa forma não aguentarei e acabarei cedendo á suas vontades.

A primeira coisa que faço no dia, antes mesmo de me vestir, é dedicar a ele minha oferta em sinal de devoção. Que a ele só agrada se essa oferta for em sinal de ração. Da marca de sempre com a qual ele esta acostumado, e com um agrado no final para que ele se sinta satisfeito.

Quando estou mal, sua presença me conforta. Mas assim como Deus, ele não faz nada para resolver minhas merdas. Apenas está ali, como meu salvador, assim como da última vez, que não deixei a vida por pouco, graças a ele e seus miados incessantes. Miados de quem saber a agonia que se passa em mim, de alguém que vê no fundo dos meus olhos toda minha dor, alguém que não me deixou morrer, talvez por amor.

Ele pode tudo. Deitar em cima de meus cadernos, passear em cima da televisão, assim como em cima da estante derrubando tudo que há nela. Dormir no meu quarto á noite, dividindo o travesseiro comigo e até me jogando para fora da cama.

É, meu gato é deus. Tudo indica que sim.

E eu, ao apertar sua barriga gordinha e pega-lo no colo como um bebê, muito provavelmente seja uma herege.

Meu deus.



domingo, 10 de maio de 2015

minha querida

Eu te amei no silêncio, nos gritos,
nas vozes que ecoavam dentro de nossas cabeças
com todos os temores que o excesso traz.

Eu te amei entre refrões de bolero,
promessas silenciosas
e ausências inoportunas.

Eu te dei o silêncio,
pois as palavras, ainda que inconscientemente,
sempre foram até você.

O quente do meu peito que esvai enquanto escrevo;
se estranha nas letras que serão vistas pelos seus olhos.

Você sentirá o toque em cada linha,
assim como sua lembrança virá até mim
sem que eu me dê conta.

Sempre fomos exatas,
ainda que inconstantes,
ainda que seus devaneios não sejam os meus,
ainda que Marte colida com Júpiter em algum mundo paralelo
nos encontramos na colisão.

Não existe poesia no meu exagero barato,
mas há você em cada rascunho,
e é tudo que eu preciso para continuar a tentar decifrar
oque não é passível de explicação.

Eu te amei. Eu te amo.
Assim como quem é completo só por amar,
sem a necessidade de pré-requisitos ou definições.
Sentir, pensei, talvez seja apenas se entregar ao excesso.

E não existe o ontem,
senão as memórias,
ou o amanhã,
senão a continuação de tudo que foi
e sempre será.

E por te amar
como quem nasceu para esse único ato,
continuo.

Amar poderia ser considerado um ato de coragem,
insanidade, talvez.
Amar poderia ser você,
ou eu,
ou todas ás vezes que me refugiei no seu colo
e você me acalentou como se fossem as primeiras.

Existem amores tão grande que tomam espaços infinitos,
eu me permito transbordar por você.


sábado, 9 de maio de 2015

Desamor

Tinha de escrever uma redação
era tarde da noite
minhas pernas se apertavam embaixo da mesa
o ponteiro do relógio
fazia par com as batidas do meu pulso
escrevi teu nome
nas vinte linhas do caderno
não assinei
entreguei
fui pra casa.

Meu tesão
tem nome
tem forma.

Minha libertação te escorre
e me compensa
no meio da rua
eu me confesso
embaixo da lua
eu gozo.

Me perdendo em mim mesma
eu me tenho.

PS: Lembrar de escrever outra redação, para não me ferrar.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Você vai saber


Uma hora
o telefone vai tocar
a campainha vai chamar
o jornal vai estar lá
com a notícia
estampada
eu deixei recado
eu deixei uma carta
eu deixei a vida
pela manhã

vai chover no domingo
o trem vai atrasar
o ônibus não vai passar
e eu hei de ter sumido

o abraço vai virar saudade

é tudo uma questão de tempo
com exceção da morte

baby,
não há um "fim"
apenas uma reta
com infinitos recomeços

domingo, 19 de abril de 2015

O peso da existência

- A todos que por diversas vezes tentaram me ajudar.

Vocês estão tentando me salvar de mim, mas suas almas gritam de medo ao encarar o profundo abismo da minha. Seus braços tornaram-se frouxos quando as vozes na minha cabeça explodiram em minha boca. Minha insanidade é pesada demais para que vocês a carreguem de pernas trêmulas e ombros frágeis. Vocês tentam achar palavras que confortem uma alma devastada, mas não sou eu quem mais está precisando delas agora. Vocês não tem estômago para suportar toda esqualidez em mim. E com certeza, correriam quando encarassem o que há de fato por trás desses meus falsos sorrisos e palavras ensaiadas. Se eu os mostrasse meus monstros, vocês fechariam os olhos, como crianças assustadas na direção contraria á mim. Porque ninguém pode me salvar. Eu sou o meu monstro. Minha própria penitência. Estou fadada ao martírio da minha consciência. E está, é uma assassina silenciosa e impiedosa.

Retalho

Me falta a sanidade,
o senso e estabilidade. 


Me faltam risada frouxa,
as explosões no peito,
as erupções criativas.

Me faltam as cores,
a liberdade e
sobretudo,
as fantasias.

Sinto falta dos meus sonhos
das minhas metas
e do sentir.

Me falta sensibilidade,
essência e vontade.

Falto em mim
e já não sei distinguir
o gosto de ser.

Tenho apenas estado...

Náufrago

Disfarço-me em nós
em máscaras
da farsa de dentro
na face de fora

Nenhum verso muda isso
é pelo ponto final
que a gente chora

Amei muito
e antes do ponto
o que haviam
eram palavras

                          Do teu naufrágio
                              Do teu amor

e pra salvar de ti
nada havia.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Carta aberta á mim mesma

A garota que eu conheci sorria e ria de tudo. Amava estudar. Sempre foi a primeira da turma e o orgulho dos pais. Via beleza em todas as coisas. Era uma menina muito boa. Considerava a vida, mesmo com tantas dificuldades, uma dádiva.

"Os problemas dos adolescentes são tão banais aos olhos dos outros (...)"

03/01/2014 – 18:00 hs
Um choro. Um suspiro. E então uma queda.
A garota que conheci passou boas horas no hospital chorando de vergonha e agonia, enquanto colocavam um tubo em sua garganta. O motivo, envenenamento.
A primeira tentativa de suicídio. Da menina que chorava todos os dias contando os segundo pro fim. A garota que eu conheci escondia em si uma angustia. Para os pais, apenas uma fase adolescente. Ela nunca acreditou nisso.

[...]


A menina que um dia eu conheci. Sumiu. Morreu. Vinte e dois dias depois. Estirada no chão. Consumida pela depressão. Contava os minutos para o fim. A segunda tentativa de suicídio.
A partir daí, três... Quatro... Sete... Diversas tentativas. Tentativas frustradas de escapar da realidade.

[...]

12/02/2015 – 20:00 hs
Depois de muitos remédios.
Muita terapia. 

Um diagnóstico...

Depressão.

A partir daí não mais Sol; não mais verão. Para ela apenas tempestade.

[...]


11/04/2015 – 01:10 hs
Choro todos os dias antes de dormir. Choro na rua. Choro em casa. Choro enquanto acendo um cigarro para tentar fazer com que meus pensamentos sumam na fumaça, no vento, tentativa inútil. Agora, me afastei da minha família e de muitos amigos por não conseguir me manter estável, por não ter forças para manter laços. Mantenho esse blog porque talvez seja ele a forma mais barata, porém, a única maneira de fugir. A menina boa que um dia eu conheci tem muita vergonha da pessoa que me tornei nos últimos meses. Eu tenho me destruído. Eu já devo ter morrido umas dez vezes nas últimas semanas. Já não consigo mais acordar um dia sequer sem me perguntar o porquê de continuar aqui. Estou vendo tudo se repetir e já não consigo mudar isso. Estão voltando ás noites de desespero; de solidão; noites sem dormir.

Eu preciso de ajuda, e tenho muito medo. Tenho muita coisa guardada  e tenho medo de que as coisas voltem a ser como foram um dia. Eu preciso de ajuda, agora muito mais do que nunca. Eu falhei comigo mesma.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

do lado de fora

Deixe que eu entre, aqui fora é frio. Aqui fora é vazio.
Então deixa que eu entre, não ocupo tanto espaço.
Não me procuro e não me acho.
Eu só quero estar pelo tempo que for possível que eu esteja.

Deixe-me entrar.
A saudade aterroriza.
O abandono domina.
A incerteza recrimina.

Eu não vou a lugar algum. Deixe-me entrar.
Na minha jornada todas as portas estavam fechadas.
As janelas era muito altas para pular.

Me deixe entrar antes que chova.
Antes que eu dissolva e escorra por entre essas ruas.
Deixe que eu entre, seja inferno ou paraíso.
Só não me deixe para fora.

E como o mito da caverna,
De cá de fora eu só vejo que ai dentro há fogo.
Há frestas e há também sombras.
É uma porta sem fechaduras.
Sem dobradiças.
Nunca se abriria.
Escorri por ela toda...

Deixe que eu entre antes que o vazio me consuma.

domingo, 5 de abril de 2015

Um doze avós do céu


Então vivemos mini revoluções
de promessas de que nada vai permanecer
nosso juramento de guardanapo
mesas de bares, balcões, sobre os cafés
tudo vai mudar
enquanto vivemos nas fotografias
enquanto andamos por ruas mais largas
e alargamos as artérias
levando o mundo no coração
e não há esquina em que eu me perca
porque quem anda sem rumo
não se perde jamais.

6h30

Tem dias que eu acordo sem pertencer a lugar nenhum.
Os barulhos são indigestos e busco silêncio sob meus medos.
A vida acontece lá fora, e eu não faço parte dela.
Ás vezes minha companhia me irrita e desejo solidão de mim.
Quero vazio imensos. 
Estou enjoada, enjoada desse eterno domingo. 

Não consigo mover-me
para onde quer que eu olho
tem uma felicidade comprada
que meu dinheiro não banca. 


sábado, 4 de abril de 2015

Confession








Hoje eu morri três vezes
na esquina da avenida
no bar daquele velho senhor
nos teus olhos de despedida.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Eu amanheci nos olhos daquele rapaz

Eu vi a cor da manhã nos olhos daquele garoto e depois daquele dia eu pude jurar sorrindo que nada mais seria como antes. A noite longa se despediu e sobre a leve neblina dos olhos dele eu vi as estrelas levando todas as velhas marcas de expressão.

E  poderia eu neste acaso danificado estar frente tudo aquilo?

Naqueles olhos itinerantes diluiu-se minha rotina, minha cadência desconexa cantarolava a marginália enfurecida de Gilberto Gil. Aquele rapaz aparentemente comum de calças e jaqueta jeans, pacote de cigarros nos bolsos, óculos e semblante compenetrado tinha na palma das suas mãos o traço definido da rota da mais bela viagem de toda a minha vida, a liberdade. Dois rios inversos que se guardavam para um destino certo. Dois pares soltos de olhos vistos, enebriados, imbuídos no primitivismo inocente do amor recíproco, inesperado e completamente revolto. Adeus horas impiedosas de embriaguez anônima! Será que é isso que chamam de amor a primeira vista?
Não, eu não seria capaz, não depois de tudo. Mas posso lhe garantir, que mesmo que por alguns instantes, olhando os olhos daquele rapaz, eu soube a razão de estar viva, de ter fome de viver e ser livre, de permanecer e acreditar de alguma forma que nada mais seria em vão.

domingo, 29 de março de 2015

Amor não é isso

E desmoronei com a minha saudade remoida e dolorida, você não verá, mas estarei atrás de você em todos os corpos que há vida, me perdendo e morrendo nos fins de todo amor que não é o teu.
Você não verá, mas estarei a cada dia mais ressecada porque não posso mais com as poesias dos fins.

Você foi o meu fim

E eu, assistirei Closer, chorando e questionando
"Porque o amor nunca é o suficiente?"
(...)
Mas...
Mas...
Amor não é isso.
Talvez eu não ame você.

terça-feira, 24 de março de 2015

Desassossego

era uma menina engraçada
por ela
era a cebola
que chorava
eu sou parecida
com essa menina
sempre caímos bem
no nosso jeito, assim
até que ela caiu pra fora
e eu
pra dentro de mim

- Á Beatriz meu amor, com saudade.

domingo, 22 de março de 2015

Garota interrompida


Mas sei muito bem como é querer morrer..
Ter de levantar todos os dias e encarar diretamente a vida...
Aquelas caixas de Prozac jogadas pelos cantos...
Aquelas mesmas que mantém em mim a lucidez
Sei bem como machuca sorrir...
E como é doloroso quando você tenta se encaixar mas não consegue..
Quando você se fere por fora pra tentar matar a coisa lá dentro.

domingo, 15 de março de 2015

o prazer

Eu abro minhas pernas

porque a cabeça está vazia.
porque eu sou meio vadia. 
completamente, eu diria.
eu abro as minhas pernas
porque o baú não tem segredos
e que se fodam os medos
e que me fodam os homens
todos, alguns, poucos
e que me deixem louca
e que me beijem a boca
como bichos
como nunca antes vistos
eu abro as minhas pernas
e fecho os livros
e quebro os discos
e rasgo os sonetos
eu abro as minhas pernas
tensas, tímidas, vorazes
indisciplinadas e vítimas
de uma sociedade que me julga
"puta suja, puta burra"
eu abro as minhas pernas
o meu peito
o meu jeito
e se você me rejeita, eu rio
porque existe um mar silencioso de prazer entre as minhas pernas
e eu não preciso de você
pra isso. 

ninguém merece

Meu desajeito é tão evidente.

Eu sou fora de cogitação,
minha mudança de humor é contante,
esse seu verão eterno acaba comigo,
eu sou inverno até a alma e então,
repentinamente,
tudo é primavera
e depois que as flores caem
eu fico inverno outra vez. 

A solidão é um lugar,
é meu lugar,
e eu não recebo visitas.

Ps: Se o mundo fosse maior, ainda assim eu não caberia.
Eu sou tão grande que só me encaixo nas ausências. 

quinta-feira, 12 de março de 2015

canecas e chás

Comecei a escrever pela quantidade de coisas inacabadas.
No papel, eu dou ponto e pronto.

Dei fim á saudade, dor, dúvida e dividir alegrias.
Eu fico pensando em ir embora,
mudar o cabelo, de gostos e de nome.

Já pensou se esqueço quem nunca lembrou de mim?

Vou ter finalmente paciência pra ouvir oque não me interessa.
Eu não vou me matar,
mas posso morrer de tédio.

Recomeçar é uma palavra linda,
e eu,
já tive tantos fins.

Ir embora exige bastante coragem
e eu tenho medo de solta á mão de alguém.
Eu posso voltar, sim eu sei.
Mas posso não saber pedir abrigo,
eu nunca fui boa com cobranças.

Sobraram-se poucas canecas
e muito chá.
Já passa das seis,
e eu já sei que não vem mais ninguém.

Este ano,
os dias serão mais longos
e as noites serão mais curtas.

Algo me diz que a saudade vai aumentar
e que o reencontro será doloroso.


quinta-feira, 5 de março de 2015

Luz no fim do túnel

E não havia mais olhos nos olhos
e nem tampouco meus lábios nos teus
havia apenas escuridão adoçada
á infinitos pensamentos meus

Foi uma palavra de adeus
que me trouxe até aqui
naquela curva que falastes
o amor ficou e se perdeu

E sabe minha querida

agora posso te dizer

não existe luz no fim do túnel

apenas o eco do adeus.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Um comunista nasceu vendendo balas no bar.

Sem saber contar a grana que a mãe precisava, aos nove anos me disse que gostava de português, se eu o encontrar aos dezesseis vai dizer que não gosta de burguês.
Me deu cinco centavos de presente, colocou a minha frente a esperança numa moeda.
Saiu andando, segundo seu plano de evolução: eu guardei a moeda como um sinal, de sorte social.
Eu espero que ele se lembre, que eu disse à ele pra estudar história, amar ciência, saber que ele é um deus....
Espero que ele sempre divida oque ganhar, que ele não se esqueça de se manter sorrindo e desconfiando quando preciso.
Tenho-o agora como um ente querido,
Emancipado,
Da minha familia de alma correndo atrás do mesmo que eu:
Liberdade pra viver em paz.

domingo, 1 de março de 2015

Quero me bordar em você

Escrevo-te mais uma vez aos prantos.

As lágrimas quentes entram em contato com o frio que vem da janela, 
espalhando pelo quarto aquele cheiro de choro de amor
que só os que sofrem sabem como é.

Ah, eu sinto que estou esgotada,
mas mesmo assim insisto em continuar de pé.

O vento está congelante, 
mas não quero colocar um casaco. 

Queria que os braços dela fossem meu cachecol…

 Eu passaria frio....
Ela nunca seria totalmente minha. 

domingo, 22 de fevereiro de 2015

O primeiro desabafo

Há tempos que não escrevo.
Tenho tido picos de felicidade seguidos por dias em que a decadência e o ócio falam mais alto e mesmo com toda essa colisão de sentimentos distintos, um contra o outro, ainda sou capaz de pensar.

Penso na morte, nas marcas nos braços que jamais me deixam esquecer... Penso que hora ou outra isso irá se repetir.
Penso nos meus cigarros... Eu que havia parado de fumar, me dou conta de que ando fumando cada vez mais, bebendo cada vez mais e que cada sentimento passa a atingir os extremos do meu corpo.
Penso também naquele dia em que a lua brilhava em meu quarto, eu me sentia exausta após um desses picos sentimentais, mas dessa vez veio a tristeza e me lembro de que ali, tudo oque eu queria era sumir.
Imagino que a expressão “extremismo” exista mas ao mesmo tempo eu penso que esse não seja o real sentido dela, mas meus sentimentos são assim, ao extremo. É felicidade demais e, quando ela se vai, é tristeza demais, e volta.
Ando inconstante mas sinto que a alegria tem atingido ápices cada vez menores e que esses sentimentos ruins estão me consumindo, e que talvez, eu esteja me tornando uma pessoa amarga.


Ela diz
"eu te conheço você não é assim".
Menina, eu gosto tanto de você mas ainda assim preciso lhe dizer.... Você conhece de mim aquilo que eu te mostro, você entra no meu mundo somente até onde eu lhe dou as chaves... Mas ainda assim, há muita coisa da qual você não sabe.


Penso nisso, e penso em como eu gostaria de conhecer alguém, alguém que soubesse realmente lidar com toda essa inconstância, alguém que estivesse disposto a entrar nesse mundo, e não alguém que fuja quando as portas se abrirem.
Penso também como eu ando me enganando dizendo que não preciso de ninguém, quando na verdade, seja talvez oque eu mais queria.
Penso em todas as chances perdidas e as pessoas que ficaram pra trás até aqui, em todas aquelas que se aventuraram a mergulhar nesse abismo de inseguranças e em como as rejeitei por medo.
Penso no que a vida preparou para mim e imagino se seria possível mudar o que alguns acreditam se chamar “destino”.

Para onde eu vou e como vou terminar essa incessante e inconstante viagem, caberá a mim decidir.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Inocência

Certa vez me disseram:

"Você é muito nova,
não chora menina.
A vida vai compensar,
as lágrimas atadas
á  madrugada
e a solidão."

Na  posse da noite
me contaram que,
nascemos para
desfrutar da alegria
mesmo havendo momentos
de agonia.

Afirmaram de joelhos
que o tempo se encarrega de
trazer e afastar
e que tudo se resume a:
AMAR;

E eu,
tola,
acreditei.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Hoje eu decidi dançar, mas quando coloquei a música vi que não tinha companhia; desolada, convidei a solidão para me acompanhar e ela, como uma fiel companheira, me acompanhou. Porém, certa hora, acabou pisando no meu pé. Sentia a dor e guardei pra mim, assim como ando guardando a maioria das que ando sentindo. 
Depois de tanto demonstrar, acabei decidindo por me guardar. Guardar a minha essência. Só tenho medo de acabar transbordando por dentro, já que é muita coisa pra pouco espaço. Por fora, estou vazia. Sem expressão.


No compasso da dança, eu fui me perdendo no espaço. 


O espaço onde existia a constelação de todas as estrelas que iluminavam minhas noites, contudo, ao passar do tempo tais estrelas foram fugindo para outras constelações que chamavam mais atenção. A minha, confesso, é meio tímida e não gosta de se mostrar para qualquer pessoa, e estrelas gostam de ser vistas... Me sentia cada vez mais vazia e a solidão ao perceber que eu não me fazia presente, também me abandonou. 
Não tendo em que me segurar, acabei caindo do abismo que a música falava e finalmente me senti livre. E talvez, feliz.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

E ela se foi

Eu ainda queria te ouvir, saber se você pensou em voltar, se mandou arrumar aquele zíper do casaco ou se parou de fumar. Saber de você, do seu dia, da sua rotina longe de mim, e como tem se virado. Porque as coisas mudam não mudam? E como você mesma dizia, deixa que das feridas o tempo cura. E foi para que as coisas mudassem que acabamos, e eu acabei com mais uma ferida. Lembro bem, você queria ter outra rotina no seu canto e eu no meu, "veremos no que dá". E tem tanta coisa que ninguém previu... Tanta saudade que não se calculou. É por essas e outras que nunca durmo longe do telefone, eu ainda queria te ouvir, mesmo sabendo que nenhum de nós teria oque falar.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

A terapeuta

Pra ela eu contava qualquer tipo de coisa com o coração todo aberto, porque eu sentia de forma muito clara a facilidade e o acolhimento com que me ouvia. Um bom confidente, às vezes, é apenas aquele que nos deixa livres para dizermos tudo o que quisermos sobre nós, inclusive bobagens das quais talvez nos arrependamos logo depois de dizê-las. Às vezes, é apenas aquele que interage com o nosso sentimento da vez, sem estar com a razão toda arrumada para análises profundas, tiradas magníficas, sermões eloquentes, dos quais nem sempre precisamos. Um bom confidente, essa maravilha rara, é aquele que aproxima, generosamente, a vida dele da vida da gente e, apesar da mágica interação que acontece com essa proximidade, consegue manter a distância necessária para não confundir a sua história com a nossa. Há momentos em que a gente só precisa falar e se sentir, de verdade, ouvido. Só isso. Só isso tudo.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Daquelas palavras não ditas

você precisa se encontrar
você pensa demais
e é isso oque faz você se afogar
você se perde em suas lembranças
seus erros tendem a crescer
seus lábios não se mechem
pois você não diz oque sente
talvez
é, talvez
o seu erro seja esse
guardar tudo dentro da sua alma 
a deixar tudo dentro dessa caixa
cheia de expectativas que fizeram você morrer cada vez mais
ao invés de deixá-las irem embora
levadas com o vento
e apenas aceitar
que todos nessa vida
tem que se perdoar.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Aquela dos dreads

Ela virou pra mim, riu alto e disse que eu era a melhor coisa que tinha lhe acontecido na vida.
E eu pensei na hora: puta que pariu, a gente precisa de umas mentiras sinceras dessas na vida pra poder continuar.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Não fique entre

O copo e o corpo

Me beba agora

Ou cálice

Para sempre.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Neruda

...Em noites como está a tive nos meus braços.

Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela me quis, às vezes também eu a queria.

Como não ter amado aqueles grandes olhos fixos....

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

quando eu era flor

Eu estou abrindo mão de algumas coisas. Eu sei, é necessário. Ás vezes é preciso dar um tempo para que as coisas possam fluir naturalmente. Necessariamente isso não significa que estou perdendo, só estou tentando me libertar da prisão que eu mesma construí, do abismo que eu mesma criei com meus pés. Eu queria poder dizer que não sinto nada a respeito e que já estou me sentindo livre, mas eu não posso. Muitas das vezes o preço que temos que pagar para conquistarmos a liberdade é alto e dessa vez, finalmente, poderei pagar.

Existe um vácuo

Há em mim

Um oco terrível

De ser

Todo o amor do mundo

E mesmo assim

Não me caber

Há quem diga que ela nasceu das flores, eu acreditaria por tamanha meiguice e complacência. Na suavidade dos pensamentos, na suave idade da alegria, tristeza é só nuvem passando, é só chuva que deságua e trás céu azul no outro dia.
Não me abstenho de observar teus passos, de longe, e fazê-los de exemplo. A tua virtude e paciência, molda a personalidade extasiante. Quantas curvas tortas em todo esse caminho? Quem sabe. Ela transcende a calma, trás paz na angústia.
Eu a observo de longe, extasiada, e cada palavra que brotam de ti é poesia aos meus ouvidos. Um poema de sonhos, utopias e paradoxos de amores alternados. Não existe tristeza que não venha a ser escoada no meu coração vulcão, em tua alma infinda serena,  mon amour, você merece muito mais.

À Gabriela, com carinho.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Eu vi galáxias em seus olhos

Eu quis estar em você 
feito tatuagem
desenhar as minhas lágrimas
e os meus sorrisos
na nitidez da sua alma, 
mas de melhor só temos o desejo
de sermos inteiros
em um roteiro
onde não há contexto. 
E então....
Olhei naqueles grandes olhos  escuros que me devoravam
e pensei...
eu afundaria todos os navios nesta noite
incendiaria o porto
só para ver o brilho das chamas refletido em seu olhar.