A principio fiquei bastante chocada quando me dei
conta disso, foi em um dia qualquer, tirei uma foto dele, observei como o amava
e como era maravilhoso o observar; foi ai que me dei conta: meu gato é Deus.
Onde quer que eu vá ele está lá. Seja na forma dos
pelos grudados no meu casaco preto, ou dentro do meu sapato, ou no céu da minha
boca. Seja nos grãos de ração dentro da minha bolsa ou nos arranhões nos meus
braços. Ele assim como Deus, é onipresente. E também, assim como ele, quando eu
chamo, lhe suplico, ele é indiferente e nem se quer me responde. Ele sabe que
não é o único, mas ainda assim, não aceita que outros sejam tão adorados quanto
ele.
Ele exige meu tempo, e minha adoração. Talvez ele
ache que deva ser amado acima de tudo e de todas as coisas. Mais ainda do que o
sofá novo de minha mãe, que agora está com as quinas completamente destruídas
por suas santas garras. Talvez ele ache que eu deva amá-lo mais do que a mim
mesma, e ser apenas instrumento de sua vontade.
Fica feliz quando eu chego em casa, mas após isto,
somente quando eu faço o que ele quer. E quando faz exigências, quer ser
atendido quase que imediatamente, caso ao contrário faz birra, e mia como se o
mundo fosse acabar. Talvez ele saiba que vê-lo gritar dessa forma não aguentarei
e acabarei cedendo á suas vontades.
A primeira coisa que faço no dia, antes mesmo de me
vestir, é dedicar a ele minha oferta em sinal de devoção. Que a ele só agrada
se essa oferta for em sinal de ração. Da marca de sempre com a qual ele esta
acostumado, e com um agrado no final para que ele se sinta satisfeito.
Quando estou mal, sua presença me conforta. Mas
assim como Deus, ele não faz nada para resolver minhas merdas. Apenas está ali,
como meu salvador, assim como da última vez, que não deixei a vida por pouco,
graças a ele e seus miados incessantes. Miados de quem saber a agonia que se
passa em mim, de alguém que vê no fundo dos meus olhos toda minha dor, alguém que
não me deixou morrer, talvez por amor.
Ele pode tudo. Deitar em cima de meus cadernos,
passear em cima da televisão, assim como em cima da estante derrubando tudo que
há nela. Dormir no meu quarto á noite, dividindo o travesseiro comigo e até me
jogando para fora da cama.
É, meu gato é deus. Tudo indica que sim.
E eu, ao apertar sua barriga gordinha e pega-lo no
colo como um bebê, muito provavelmente seja uma herege.
Meu deus.