sexta-feira, 29 de maio de 2015

Meu gato é meu Deus

A principio fiquei bastante chocada quando me dei conta disso, foi em um dia qualquer, tirei uma foto dele, observei como o amava e como era maravilhoso o observar; foi ai que me dei conta: meu gato é Deus.

Onde quer que eu vá ele está lá. Seja na forma dos pelos grudados no meu casaco preto, ou dentro do meu sapato, ou no céu da minha boca. Seja nos grãos de ração dentro da minha bolsa ou nos arranhões nos meus braços. Ele assim como Deus, é onipresente. E também, assim como ele, quando eu chamo, lhe suplico, ele é indiferente e nem se quer me responde. Ele sabe que não é o único, mas ainda assim, não aceita que outros sejam tão adorados quanto ele.

Ele exige meu tempo, e minha adoração. Talvez ele ache que deva ser amado acima de tudo e de todas as coisas. Mais ainda do que o sofá novo de minha mãe, que agora está com as quinas completamente destruídas por suas santas garras. Talvez ele ache que eu deva amá-lo mais do que a mim mesma, e ser apenas instrumento de sua vontade.

Fica feliz quando eu chego em casa, mas após isto, somente quando eu faço o que ele quer. E quando faz exigências, quer ser atendido quase que imediatamente, caso ao contrário faz birra, e mia como se o mundo fosse acabar. Talvez ele saiba que vê-lo gritar dessa forma não aguentarei e acabarei cedendo á suas vontades.

A primeira coisa que faço no dia, antes mesmo de me vestir, é dedicar a ele minha oferta em sinal de devoção. Que a ele só agrada se essa oferta for em sinal de ração. Da marca de sempre com a qual ele esta acostumado, e com um agrado no final para que ele se sinta satisfeito.

Quando estou mal, sua presença me conforta. Mas assim como Deus, ele não faz nada para resolver minhas merdas. Apenas está ali, como meu salvador, assim como da última vez, que não deixei a vida por pouco, graças a ele e seus miados incessantes. Miados de quem saber a agonia que se passa em mim, de alguém que vê no fundo dos meus olhos toda minha dor, alguém que não me deixou morrer, talvez por amor.

Ele pode tudo. Deitar em cima de meus cadernos, passear em cima da televisão, assim como em cima da estante derrubando tudo que há nela. Dormir no meu quarto á noite, dividindo o travesseiro comigo e até me jogando para fora da cama.

É, meu gato é deus. Tudo indica que sim.

E eu, ao apertar sua barriga gordinha e pega-lo no colo como um bebê, muito provavelmente seja uma herege.

Meu deus.



domingo, 10 de maio de 2015

minha querida

Eu te amei no silêncio, nos gritos,
nas vozes que ecoavam dentro de nossas cabeças
com todos os temores que o excesso traz.

Eu te amei entre refrões de bolero,
promessas silenciosas
e ausências inoportunas.

Eu te dei o silêncio,
pois as palavras, ainda que inconscientemente,
sempre foram até você.

O quente do meu peito que esvai enquanto escrevo;
se estranha nas letras que serão vistas pelos seus olhos.

Você sentirá o toque em cada linha,
assim como sua lembrança virá até mim
sem que eu me dê conta.

Sempre fomos exatas,
ainda que inconstantes,
ainda que seus devaneios não sejam os meus,
ainda que Marte colida com Júpiter em algum mundo paralelo
nos encontramos na colisão.

Não existe poesia no meu exagero barato,
mas há você em cada rascunho,
e é tudo que eu preciso para continuar a tentar decifrar
oque não é passível de explicação.

Eu te amei. Eu te amo.
Assim como quem é completo só por amar,
sem a necessidade de pré-requisitos ou definições.
Sentir, pensei, talvez seja apenas se entregar ao excesso.

E não existe o ontem,
senão as memórias,
ou o amanhã,
senão a continuação de tudo que foi
e sempre será.

E por te amar
como quem nasceu para esse único ato,
continuo.

Amar poderia ser considerado um ato de coragem,
insanidade, talvez.
Amar poderia ser você,
ou eu,
ou todas ás vezes que me refugiei no seu colo
e você me acalentou como se fossem as primeiras.

Existem amores tão grande que tomam espaços infinitos,
eu me permito transbordar por você.


sábado, 9 de maio de 2015

Desamor

Tinha de escrever uma redação
era tarde da noite
minhas pernas se apertavam embaixo da mesa
o ponteiro do relógio
fazia par com as batidas do meu pulso
escrevi teu nome
nas vinte linhas do caderno
não assinei
entreguei
fui pra casa.

Meu tesão
tem nome
tem forma.

Minha libertação te escorre
e me compensa
no meio da rua
eu me confesso
embaixo da lua
eu gozo.

Me perdendo em mim mesma
eu me tenho.

PS: Lembrar de escrever outra redação, para não me ferrar.