sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Carta de suicídio de V.W

"Meu querido,
Quero dizer que você me deu a felicidade completa. Ninguém poderia ter feito mais do que você. Por favor, acredite.
Mas sei que jamais recuperarei; e estou desperdiçando sua vida. É essa loucura. Nada que alguém disser poderá me convencer.  Você não consegue trabalhar e ficara muito melhor sem mim. Está vendo não consigo nem escrever isso direito. Só prova que estou certa. Só quero dizer que até essa doença surgir fomos perfeitamente felizes. Foi tudo graças á você.
Ninguém poderia ter sido tão bom como você tem sido, do primeiro dia até agora.  
Todos sabem disso.

V."

Depois de ter lido a mesma coisa por mais de quatro vezes, me desfiz em lagrimas. Senti muitas coisas ao mesmo tempo - uma tristeza, uma dor inexprimível diante da vida que fora rompida, mesmo que á muito anos antes de meu nascimento.
Hora senti por ela, hora senti por ele, e hora por mim. Senti em mim a dor dela, tive medo, pois ainda carrego comigo uma carta que fiz em uma das tentativas frustradas de romper com a minha própria vida. Não acho que eu esteja plenamente recuperada e nem acho que possa chegar a estar. Depois da vigésima, ainda acho que não me recuperei nem ao menos da primeira. 
Eu gostaria de tê-lá conhecido. Provavelmente não a salvaria, mas certamente lhe diria como aquela dor me é familiar.
Porque diabos temos de carregar dia após dia este fardo tão  pesado? 
Todo esse tempo que se passou desde Virginia, estou frustrada, irritada, principalmente com este mundo por deixar que alguém como ela partisse tão cedo. 
V.W. essa ideia agora é insuportável para mim. 

"O que é isso que empurra alguém para a beirada final e fatal, quando a vida é algo que estamos dispostos á perder?"  


quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Me refiz

"Queria poder acrescentar que não me veio mas a morte à cabeça durante todas aquelas horas em que eu estive com ela. Não sei se lhe dei atenção demais, ou foi ela quem lançou uma magia absoluta sobre mim, mas algo nela me fez não querer morrer o tempo todo. 

Posso dizer que ela me fez querer morrer menos hoje pela manhã. O que será isso? 

Acho que enlouqueci, ou foi ela que me deixou louca. Das duas formas, de uma coisa eu tenho certeza, ela faz com que eu queira me salvar do pior em mim." 




- Com amor, Bruna.

domingo, 15 de novembro de 2015

Saia

Superei sua partida,
parei de chorar logo em seguida,
me agarrei no travesseiro, 
não me incomodei com o cheiro.


Levantei da cama,

tirei o pijama,
coloquei uma roupa boa e saí.


Depois do trabalho,
beber até cair.


Mas chegando lá, 
as palavras que saiam
não eram minhas,

as manias de como falar,
o jeito não era paulista.


Pois o meu problema 
não era seu cheiro,
mas o seu jeito que não saía de mim.

sábado, 14 de novembro de 2015

antes

Eu costumava gostar do silêncio
da quietude da tarde
da minha solitude
e dos cochilos na rede

Filmes do Tarantino as três
para fazer a diversão do dia
e umas palavras em um papel
para me livrar de qualquer dor que eu tinha

Eu...

Eu costumava ter algumas certezas fixas
na minha leitura das pessoas
e do mundo
e achava internamente que sempre tinha razão
que tinha um desenho do futuro
guardado
escondido
que eu sabia

Eu costumava
mas não sei o que houve

E apesar de olhar para todos os lados
eu não consigo encontrar o retorno
e apesar dos meus pulos
no vazio da casa
e apesar do meu custo em admitir

Eu não sei mais...