sábado, 27 de junho de 2015

Eu não vou te perdoar!

E foi assim, eu estava em casa, ele entrou e disse que queria conversar... Desde que eu encontrei meu lugar no movimento feminista, tenho desconfiado de homens como ele -  não, feministas não odeiam os homens, mas mulheres me ensinaram que o mundo não é tão belo como parece e que deve-se desconfiar de homens a qual se dá a mão e ele quer o seu corpo, literalmente - ele um homem mais velho, com um ar suspeito, seus cabelos grisalhos e seu sorriso que me deixa em pânico, entrou... 
Desconfiei de sua presença, eu sempre soube que não deveria ser amiga daquele homem, mas ele era um amigo da família, porque apenas eu me viraria contra ele? 
Um em cada ponta do sofá, um de cada lado, ele perguntando da minha escola, do meu trabalho, da minha vida e dos meus pais... Eu respondi e logo o pedi que fosse embora, não estava ocupada mas não queria sua presença, queria que ele saísse da minha casa pois não fora convidado a entrar.
Eu me levanto.
Ele se levanta. 
Eu dou um passo, ele me joga de volta no sofá, me tampa a boca e grita para que eu me cale. Ele é homem, alto, grande e forte. Ele me assusta. Eu me debato. Ele me bate. Há minutos atrás eu havia o dito que sentira cólica a noite toda, ele agora, passa a mão pela minha barriga, diz que vai amenizar minha cólica, me dá um beijo na barriga e me pergunta o porque de eu não ter um piercing ali tendo uma barriga tão bonita. Ele não se importa. Eu digo que não quero, que pra cólica tem remédio, que não quero piercing, que não quero nada, quero que ele me solte. Ele ignora. Desce a mão pelo que muitos chamam de "caminho da felicidade", que é aquela linha reta um pouco escura que algumas pessoas tem na barriga partindo do umbigo, ele segue o caminho da felicidade até o que seria a felicidade dele. Eu perguntei porque ele estava fazendo aquilo. Pergunta em vão. Eu não consigo evitar que ele tire a minha roupa. Meu short já está na altura dos joelhos, ele diz que eu tenho um corpo lindo. Eu choro. Eu me debato. Eu grito. Ele me bate. Sua mão agora está no meu peito, peito pequeno ele diz, isso o agrada. Ele passa a mão em mim. Ele beija meu corpo. Ele esfrega sua mão rígida e áspera pela minha vagina. Ele diz que eu sou uma menininha ainda. Eu grito e apanho na cara por isso. Eu me debato e em um golpe rápido caio do sofá. 
Eu me levanto.
Eu tento correr.
Ele me agarra pelas costas.
Consigo sentir seu pênis rígido a se esfregar pela minha bunda. Meu short está nos pés. Eu choro. Eu choro muito. Já não sinto mais nada. Nem medo, nem vergonha, nem nojo. Só sinto suas mãos passando pelo meu corpo e ele me beijando a nuca. Falando do meu cheiro. Se deliciando em me ver pedir para parar. Ele me atira de volta no sofá. Dessa vez de costas. Ele esfrega seu corpo contra o meu. Nada de penetração. Mas ele se satisfaz assim mesmo.
Ele se levanta.
Eu estou derrotada.
Ele diz que eu não devo contar nada a ninguém. Que nós somos muito amigos. Ele diz que sabia que eu também queria isso. Chantagem emocional. Ele sabe da minha situação psicológica. Sabe da minha relação com os meus pais. Ele diz para eu pensar na minha mãe e em tamanha infelicidade que eu causaria a ela. Ele tem influência sobre a minha família. Eu me senti um lixo. Alega que ninguém acreditara em mim. Ele tem um tom de voz agressivo. Não me dói tanto fisicamente, me dói muito mais a alma. 
Ele sai.
Eu corro e fecho a porta.
Eu tranco.
Eu grito.
Eu choro.
Eu não sei o que fazer. 
Eu não creio que haja justiça. 
Eu tenho medo de contar aos meus pais. De alguma forma eu me convenci de que a culpa é minha.
Tenho medo de vê-lo novamente. 

[...]

Ele sumiu. 

[...]

Ele reapareceu.
Eu não o temo mais.
Mentira. A quem estou enganando. Eu finjo que está tudo bem e que nada aconteceu, assim como ele quer. Eu finjo que superei. E que isso não me atingiu de forma profunda. Uma grande farsa, assim como toda a minha vida, em que eu me enganei e sempre guardei tudo pra mim. Tola eu que achei que não falando nada a ninguém me privaria do sofrimento de viver.
Ás vezes eu acho que minha memória criou algum mecanismo de defesa, eu me esforço mas ainda assim não consigo lembrar de tudo. 
Eu o encontrei na escada. Ignorei seu bom dia. Como eu poderia ter um bom dia encontrando com alguém como ele logo cedo?
Ele voltou a aparecer na minha casa.
Como ele sabe meus horários? Como ele sabe sempre que estou sozinha? 
Ele apareceu no meu trabalho.
Eu o encontro na rua.
Eu o encontro em todos os lugares. 
Ele me assusta. 
Sempre dizendo que vai "dar uma passadinha para ver como eu estou"; que "vai passar para conversar"; que "vai me levar um presente"; que "esta com saudade". Eu temo. Temo por mim. Eu não quero conversar com ele. Não quero ter outra conversa com ele. 
Ele está novamente dentro da minha casa.

[...]

Eu sai de casa. 
Eu sai de casa por medo. Por falta de ajuda. Por ter nojo dele e nojo de mim. Como eu pude ser fraca e covarde? Eu me culpo, eu me culpo e não é pouco. 
Eu fui ao conselho tutelar. Ignoraram. Me negaram ajuda.
Eu fui a delegacia da mulher. Eu fui dada como desaparecida. A escrivã mal me ouviu. Não me deixou contar o meu caso... Anunciou que chamaria os meus pais. Eu teria de voltar para casa. Eu teria de vê-lo novamente. Eu seria posta de frente com ele, tendo que dizer á todos, olhando-o nos olhos, o que ele havia feito comigo. Eu não aguentaria isso. 
A escrivã diz que não irá garantir minha segurança, mais parece que ela quer que algo ocorra para então tomar uma atitude, do que prevenir de fato. Diz que eu deveria procurar o conselho. Como se eu já não houvesse feito isso. 
Eu perdi meu emprego.
Eu perdi minha autoconfiança.
Eu perdi minha vida.
Eu terei de retornar á casa.
Eu terei de retornar ao sofá.
Eu terei de vê-lo.
Eu tenho medo.
Ele me estuprou.




Eu sei que a minha história é apenas mais uma de muitas que vi, sobre abusos, estupro e coisas do tipo. Talvez eu espere "ouvir" de vocês que eu não tive culpa. Mas por mais que, racionalmente, eu saiba disso, minha alma e meu coração ainda não se convenceram do mesmo. É uma divida que tenho comigo mesma, de tentar virar a página e seguir em frente. 

Nenhuma mulher deve passar por isso!
Basta de estupro! 
Basta de mulheres mortas! 
Basta dessa justiça burguesa! 

Que tenhamos justiça de verdade! Justiça para mim. Para ela. Para todas nós! 




fiz minha tua dor

Eu só queria estar aí pra te oferecer uma saída.
Pra dizer que te entendo, 
que a vida maltrata assim mesmo.
Que é normal desabar toda noite, 
e pela manhã,
juntar tudo o que sobrou.
Eu queria te dar a mão,
deixando com que as tuas lágrimas caiam do teu rosto
e molhem o meu ombro. 
Queria te dizer que tua dor me dói.
Lhe dizer que tua bagunça não me assusta.
Mas que pelo contrário,
que me é familiar... 

Porque eu me vejo em você! 


- Com amor, Bruna. 

sexta-feira, 26 de junho de 2015

A guerra cotidiana

Explosões. Tiros. Gritos abafados. Corações oprimidos batem lentamente, quase parando. Almas vazias me rodeiam, levando de mim o pouco de esperança que me restara. Urros de desespero são frequentes perante as perdas diárias. Conversas ficam sempre pra outra hora, afinal, há sempre algo mais importante a se fazer em um lugar como este em que as pessoas estão tentando sobreviver e se destacar. Muitas das vezes nem se importam com os meios, aqui, o que importa mesmo são os fins, status, aparência e poder.

A noite guarda segredos envoltos em seu denso negrume.
O sangue jorra demasiado.
As drogas são uma espécie de artifício mágico.
As verdades estão implícitas e as mentiras mais do que vivas.
Hipocrisia, sorrisos rasos e mentes impuras.
Todos tão iguais que deveriam ao menos estar do mesmo lado.
Aparentemente, o bem individual, é uma causa melhor.

Quem nos trouxe o inferno de presente?

Tudo que eu recebo como resposta
é o som do alarme
indicando mais um dia
mais um dia de embate latente.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

PROCURA-SE

Procura-se

Respostas para perguntas vazias
Abraços para tamanho desapego
Amor verdadeiro para suprir a carência
Alguém para viver uma vida simples, normal, porém, feliz.