terça-feira, 21 de abril de 2015

Você vai saber


Uma hora
o telefone vai tocar
a campainha vai chamar
o jornal vai estar lá
com a notícia
estampada
eu deixei recado
eu deixei uma carta
eu deixei a vida
pela manhã

vai chover no domingo
o trem vai atrasar
o ônibus não vai passar
e eu hei de ter sumido

o abraço vai virar saudade

é tudo uma questão de tempo
com exceção da morte

baby,
não há um "fim"
apenas uma reta
com infinitos recomeços

domingo, 19 de abril de 2015

O peso da existência

- A todos que por diversas vezes tentaram me ajudar.

Vocês estão tentando me salvar de mim, mas suas almas gritam de medo ao encarar o profundo abismo da minha. Seus braços tornaram-se frouxos quando as vozes na minha cabeça explodiram em minha boca. Minha insanidade é pesada demais para que vocês a carreguem de pernas trêmulas e ombros frágeis. Vocês tentam achar palavras que confortem uma alma devastada, mas não sou eu quem mais está precisando delas agora. Vocês não tem estômago para suportar toda esqualidez em mim. E com certeza, correriam quando encarassem o que há de fato por trás desses meus falsos sorrisos e palavras ensaiadas. Se eu os mostrasse meus monstros, vocês fechariam os olhos, como crianças assustadas na direção contraria á mim. Porque ninguém pode me salvar. Eu sou o meu monstro. Minha própria penitência. Estou fadada ao martírio da minha consciência. E está, é uma assassina silenciosa e impiedosa.

Retalho

Me falta a sanidade,
o senso e estabilidade. 


Me faltam risada frouxa,
as explosões no peito,
as erupções criativas.

Me faltam as cores,
a liberdade e
sobretudo,
as fantasias.

Sinto falta dos meus sonhos
das minhas metas
e do sentir.

Me falta sensibilidade,
essência e vontade.

Falto em mim
e já não sei distinguir
o gosto de ser.

Tenho apenas estado...

Náufrago

Disfarço-me em nós
em máscaras
da farsa de dentro
na face de fora

Nenhum verso muda isso
é pelo ponto final
que a gente chora

Amei muito
e antes do ponto
o que haviam
eram palavras

                          Do teu naufrágio
                              Do teu amor

e pra salvar de ti
nada havia.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Carta aberta á mim mesma

A garota que eu conheci sorria e ria de tudo. Amava estudar. Sempre foi a primeira da turma e o orgulho dos pais. Via beleza em todas as coisas. Era uma menina muito boa. Considerava a vida, mesmo com tantas dificuldades, uma dádiva.

"Os problemas dos adolescentes são tão banais aos olhos dos outros (...)"

03/01/2014 – 18:00 hs
Um choro. Um suspiro. E então uma queda.
A garota que conheci passou boas horas no hospital chorando de vergonha e agonia, enquanto colocavam um tubo em sua garganta. O motivo, envenenamento.
A primeira tentativa de suicídio. Da menina que chorava todos os dias contando os segundo pro fim. A garota que eu conheci escondia em si uma angustia. Para os pais, apenas uma fase adolescente. Ela nunca acreditou nisso.

[...]


A menina que um dia eu conheci. Sumiu. Morreu. Vinte e dois dias depois. Estirada no chão. Consumida pela depressão. Contava os minutos para o fim. A segunda tentativa de suicídio.
A partir daí, três... Quatro... Sete... Diversas tentativas. Tentativas frustradas de escapar da realidade.

[...]

12/02/2015 – 20:00 hs
Depois de muitos remédios.
Muita terapia. 

Um diagnóstico...

Depressão.

A partir daí não mais Sol; não mais verão. Para ela apenas tempestade.

[...]


11/04/2015 – 01:10 hs
Choro todos os dias antes de dormir. Choro na rua. Choro em casa. Choro enquanto acendo um cigarro para tentar fazer com que meus pensamentos sumam na fumaça, no vento, tentativa inútil. Agora, me afastei da minha família e de muitos amigos por não conseguir me manter estável, por não ter forças para manter laços. Mantenho esse blog porque talvez seja ele a forma mais barata, porém, a única maneira de fugir. A menina boa que um dia eu conheci tem muita vergonha da pessoa que me tornei nos últimos meses. Eu tenho me destruído. Eu já devo ter morrido umas dez vezes nas últimas semanas. Já não consigo mais acordar um dia sequer sem me perguntar o porquê de continuar aqui. Estou vendo tudo se repetir e já não consigo mudar isso. Estão voltando ás noites de desespero; de solidão; noites sem dormir.

Eu preciso de ajuda, e tenho muito medo. Tenho muita coisa guardada  e tenho medo de que as coisas voltem a ser como foram um dia. Eu preciso de ajuda, agora muito mais do que nunca. Eu falhei comigo mesma.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

do lado de fora

Deixe que eu entre, aqui fora é frio. Aqui fora é vazio.
Então deixa que eu entre, não ocupo tanto espaço.
Não me procuro e não me acho.
Eu só quero estar pelo tempo que for possível que eu esteja.

Deixe-me entrar.
A saudade aterroriza.
O abandono domina.
A incerteza recrimina.

Eu não vou a lugar algum. Deixe-me entrar.
Na minha jornada todas as portas estavam fechadas.
As janelas era muito altas para pular.

Me deixe entrar antes que chova.
Antes que eu dissolva e escorra por entre essas ruas.
Deixe que eu entre, seja inferno ou paraíso.
Só não me deixe para fora.

E como o mito da caverna,
De cá de fora eu só vejo que ai dentro há fogo.
Há frestas e há também sombras.
É uma porta sem fechaduras.
Sem dobradiças.
Nunca se abriria.
Escorri por ela toda...

Deixe que eu entre antes que o vazio me consuma.

domingo, 5 de abril de 2015

Um doze avós do céu


Então vivemos mini revoluções
de promessas de que nada vai permanecer
nosso juramento de guardanapo
mesas de bares, balcões, sobre os cafés
tudo vai mudar
enquanto vivemos nas fotografias
enquanto andamos por ruas mais largas
e alargamos as artérias
levando o mundo no coração
e não há esquina em que eu me perca
porque quem anda sem rumo
não se perde jamais.

6h30

Tem dias que eu acordo sem pertencer a lugar nenhum.
Os barulhos são indigestos e busco silêncio sob meus medos.
A vida acontece lá fora, e eu não faço parte dela.
Ás vezes minha companhia me irrita e desejo solidão de mim.
Quero vazio imensos. 
Estou enjoada, enjoada desse eterno domingo. 

Não consigo mover-me
para onde quer que eu olho
tem uma felicidade comprada
que meu dinheiro não banca. 


sábado, 4 de abril de 2015

Confession








Hoje eu morri três vezes
na esquina da avenida
no bar daquele velho senhor
nos teus olhos de despedida.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Eu amanheci nos olhos daquele rapaz

Eu vi a cor da manhã nos olhos daquele garoto e depois daquele dia eu pude jurar sorrindo que nada mais seria como antes. A noite longa se despediu e sobre a leve neblina dos olhos dele eu vi as estrelas levando todas as velhas marcas de expressão.

E  poderia eu neste acaso danificado estar frente tudo aquilo?

Naqueles olhos itinerantes diluiu-se minha rotina, minha cadência desconexa cantarolava a marginália enfurecida de Gilberto Gil. Aquele rapaz aparentemente comum de calças e jaqueta jeans, pacote de cigarros nos bolsos, óculos e semblante compenetrado tinha na palma das suas mãos o traço definido da rota da mais bela viagem de toda a minha vida, a liberdade. Dois rios inversos que se guardavam para um destino certo. Dois pares soltos de olhos vistos, enebriados, imbuídos no primitivismo inocente do amor recíproco, inesperado e completamente revolto. Adeus horas impiedosas de embriaguez anônima! Será que é isso que chamam de amor a primeira vista?
Não, eu não seria capaz, não depois de tudo. Mas posso lhe garantir, que mesmo que por alguns instantes, olhando os olhos daquele rapaz, eu soube a razão de estar viva, de ter fome de viver e ser livre, de permanecer e acreditar de alguma forma que nada mais seria em vão.